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Entenda por que o Pérolas Negras sobra entre os pequenos do Rio no futebol feminino
Estrutura, investimento e presidente entusiasta da modalidade são pilares da equipe que projeta se consolidar como ‘adversário direto’ dos grandes do Rio nos próximos anos
Em entrevista ao Globo Esporte, Rubem César Fernandes, presidente da Academia Pérolas Negras, comenta os fatores que contribuem para o destaque do time feminino do clube entre as equipes menores. O time do Pérolas terminou a Fase Preliminar do Campeonato Carioca como líder, com 100% de aproveitamento e classificado para a Taça Guanabara com duas rodadas de antecedência.
Confira abaixo a matéria completa.
Por Leonam Viana* — Resende, RJ
15/09/2023 16h07 Atualizado há 2 dias
Classificação com duas rodadas de antecedência, 100% de aproveitamento e todas as vitórias por goleada. Assim foi o início da trajetória do Pérolas Negras na fase preliminar do Campeonato Carioca Feminino 2023, disputada apenas entre equipes de menor investimento. Os resultados evidenciam que a equipe do Sul do Rio vive uma realidade diferente dos adversários.
Pérolas Negras vence a terceira seguida no carioca feminino — Foto: Divulgação/Pérolas Negras
Com um início avassalador, o Carioca começou como foi no ano passado, quando o Pérolas se tornou a quinta força do Rio e conquistou a vaga para disputar uma competição nacional pela primeira vez, com apenas três anos de existência do projeto.
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Na Série A3, terceira divisão do Campeonato Brasileiro, disputada neste ano, o acesso não veio. O Pérolas caiu nas oitavas de final, diante do Pinda, com um resultado apertado, mas mostrou que está no nível da competição. Como ponto positivo, eliminou o Vasco na primeira fase e mostrou que já bate de frente com pelo menos uma equipe entre as quatro grandes do Rio.
O próximo desafio do Pérolas Negras é buscar, mais uma vez, a classificação para o Brasileirão através do Carioca. Diferente de 2022, quando disputou a vaga apenas com equipes de menor investimento, com os quatro grandes já classificados para o torneio nacional, nesta temporada o Vasco também está no páreo, já que o Cruz-Maltino está sem divisão nacional.
A circunstância traduz a realidade vivida pelo Pérolas Negras. A briga do clube, em 2023, é, principalmente, contra os quatro grandes, enquanto sobra diante das demais equipes. Mas, o que explica a ascensão do projeto diante de outras equipes, inclusive, mais tradicionais da capital?
Veja abaixo alguns fatores que contribuem para este cenário.
Presidente entusiasta
Rubem César, presidente do Pérolas Negras e da ONG Viva Rio — Foto: Divulgação/Pérolas Negras
Rubem Cesar, antropólogo, escritor e presidente do Pérolas Negras e da ONG Viva Rio, é um dos principais nomes responsáveis pelo desenvolvimento da modalidade. O mandatário priorizou a criação e o fortalecimento do projeto ao longo dos últimos anos e enxerga no futebol feminino uma modalidade com potencial e impacto socioeconômico, extrapolando as quatro linhas.
“A gente acredita que o futebol feminino abriu um novo capítulo na história do futebol. É uma coisa global, mundial e que tá transformando a relação de gênero. As mulheres já foram proibidas de jogar futebol e hoje em dia estão atraindo muita audiência e interesse. Com isso, vem a televisão e o dinheiro, os patrocínios.”
— disse o presidente
Com disposição e persistência da gestão, o Pérolas começou tímido, em 2020, na disputa do Carioca, mas segue galgando destaque e despontando até no cenário nacional.
“Estamos vivendo um momento de crescimento no futebol feminino e no Pérolas a gente viu isso desde o início e investiu nesse futuro”
— completou
Estrutura
CT da Vila Maia, onde se prepara a equipe feminina do Pérolas Negras — Foto: Pri Seródio
Pauta recentemente levantada por treinadores estrangeiros que são inseridos no futebol brasileiro, como o português Luís Castro, ex-Botafogo, a estrutura de qualidade é fator preponderante para o desenvolvimento e aprimoramento do futebol de alto nível.
Nesse quesito, o Pérolas se sobressai em um contexto que ainda é de precariedade no esporte. O clube conta com um centro de treinamento localizado em Itatiaia-RJ, mais conhecido como CT Vila Maia, com estrutura e suporte profissional no processo de preparação.
CT da Vila Maia, onde se prepara a equipe feminina do Pérolas Negras — Foto: Pri Seródio
Segundo a assessoria do clube, a estrutura do CT conta com alojamento, sete quartos em funcionamento, sala, cozinha, piscina, sauna individual, banheira com imersão de gelo, departamento médico integrado e sala de estudos.
Já no departamento pessoal, o futebol feminino do Pérolas conta com nutricionista, cozinheiras, psicóloga, professora da área educacional, fisioterapia, assistência médica em tempo integral, além da suplementação alimentar acompanhada. Todos os recursos estão a 100 metros do campo de treino.
O CT não é exclusividade do Pérolas entre as equipes menor investimento do Campeonato Carioca. Outro exemplo que também oferece o alojamento no futebol feminino é o Tigres-RJ, segundo colocado da fase preliminar. A estrutura do Pérolas, no entanto, é forte aliada e fator preponderante para o sucesso da equipe.
Investimento e abertura do mercado
Pérolas Negras vence a terceira seguida no carioca feminino — Foto: Divulgação/Pérolas Negras
Para figurar entre os melhores, é preciso buscar no mercado e investir em atletas de qualidade. E a captação do Pérolas visualizou meninas do país inteiro, em seus primeiros passos.
Aos poucos, o clube começou a incorporar ao elenco jogadoras com experiência em divisões do Campeonato Brasileiro, com currículo capaz de fazer a equipe sobressair em campo no cenário estadual.
“Quando a gente começou a procurar, vinha empresários de todos os cantos do Brasil. A gente acabou trazendo meninas de Roraima, do Amazonas, do Rio Grande do Sul, do Espírito Santo… É impressionante como elas se comunicam e acabam chegando até nós.”
— contou o presidente
Como exemplo, nesta temporada, a equipe comandada pelo treinador Gustavo Freitas conta com a meia Stephanie, capitã do time, que tem passagens recentes pelo futebol dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Suíça.
A atacante Thai foi contratada junto ao Avaí/Kindermann, que disputa a Série A1 do Brasileirão. Outra atleta que vem da elite nacional é Geisi, meia, ex-Real Ariquemes, que marcou seis gols em um mesmo jogo neste Carioca pelo Pérolas, na goleada por 13 a 0 sobre o Búzios-RJ.
A goleira Flor e a zagueira Maria Sampaio foram reveladas no Pérolas, mas jogaram pelo Vasco antes de retornar. A atacante Sarah passou pelo Cruz-Maltino e também pelo Flamengo nas últimas temporadas. Esses são alguns dos muitos nomes que tornam o elenco do Pérolas Negras mais robusto.
Segundo a assessoria, todas as atletas são remuneradas, ainda que nem todas possuam carteira assinada — algo que é um grande diferencial do clube no cenário do futebol do Rio.
O futebol feminino, em todo o país, continua em defasagem e com uma realidade precária, distante da ideal se comparada ao futebol masculino, mas o Pérolas Negras, entre as equipes de menor investimento do Rio, segue se destacando e sob cuidados e olhares de quem enxerga o futuro promissor da modalidade.
Pérolas Negras – feminino — Foto: Pérolas Negras
*Texto sob revisão de Nathan Alves